Consulta Índice Analítico






Catecismo - Consulta Índice Analítico






Artigo 1 - A Revelação de Deus

II. As etapas da Revelação

DEUS ELEGE ABRAÃO

61. Os patriarcas, os profetas e outras personagens do Antigo Testamento foram, e serão sempre, venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja.



DEUS FORMA O SEU POVO ISRAEL

62. Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu povo, salvando-o da escravidão do Egipto. Concluiu com ele a aliança do Sinai e deu-lhe, por Moisés, a sua Lei, para que Israel O reconhecesse e O servisse como único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e justo Juiz, e vivesse na expectativa do Salvador prometido ().



III. Jesus Cristo - «Mediador e plenitude de toda a Revelação»

Resumindo:

72. Deus escolheu Abraão e concluiu uma aliança com ele e os seus descendentes. Fez deles o seu povo, ao qual revelou a sua Lei por meio de Moisés. E preparou-o, pelos profetas, a acolher a salvação destinada a toda a humanidade.



Artigo 3 - A Sagrada Escritura

IV. O Cânon das Escrituras

OS SENTIDOS DA ESCRITURA

120. Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a discernir quais os escritos que deviam ser contados na lista dos livros sagrados (). Esta lista integral é chamada «Cânon» das Escrituras. Comporta, para o Antigo Testamento, 46 (45, se se contar Jeremias e as Lamentações como um só) escritos, e, para o Novo, 27 ():

Para o Antigo Testamento: Génesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronómio, Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crónicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros dos Macabeus, Job, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou Coelet), o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o livro de Ben-Sirá (ou Eclesiástico), Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias;

Para o Novo Testamento: Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João; os Actos dos Apóstolos; as epístolas de São Paulo: aos Romanos, primeira e segunda aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, primeira e segunda aos Tessalonicenses, primeira e segunda a Timóteo, a Tito, a Filémon: a Epístola aos Hebreus; a Epístola de Tiago, a primeira e segunda de Pedro, as três epístolas de João, a Epístola de Judas e o Apocalipse.



O ANTIGO TESTAMENTO

121. O Antigo Testamento é uma parte da Sagrada Escritura de que não se pode prescindir. Os seus livros são divinamente inspirados e conservam um valor permanente (), porque a Antiga Aliança nunca foi revogada.



122. Efectivamente, «a "economia" do Antigo Testamento destinava-se, sobretudo, a preparar [...] o advento de Cristo, redentor universal».

Os livros do Antigo Testamento, «apesar de conterem também coisas imperfeitas e transitórias», dão testemunho de toda a divina pedagogia do amor salvífico de Deus: neles «encontram-se sublimes doutrinas a respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces»; neles, em suma, está latente o mistério da nossa salvação» ().



123. Os cristãos veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus. A Igreja combateu sempre vigorosamente a ideia de rejeitar o Antigo Testamento, sob o pretexto de que o Novo o teria feito caducar (Marcionismo).



A UNIDADE DO ANTIGO E DO NOVO TESTAMENTO

128. A Igreja, já nos tempos apostólicos (), e depois constantemente na sua Tradição, pôs em evidência a unidade, do plano divino nos dois Testamentos, graças à tipologia. Esta descobre nas obras de Deus, na Antiga Aliança, prefigurações do que o mesmo Deus realizou na plenitude dos tempos, na pessoa do seu Filho encarnado.



129. Os cristãos lêem, pois, o Antigo Testamento à luz de Cristo morto e ressuscitado. Esta leitura tipológica manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo Testamento. Mas não deve fazer-nos esquecer de que ele mantém o seu valor próprio de Revelação, reafirmado pelo próprio Jesus, nosso Senhor (). Aliás, também o Novo Testamento requer ser lido à luz do Antigo. A catequese cristã primitiva recorreu constantemente a este método (). Segundo um velho adágio, o Novo Testamento está oculto no Antigo, enquanto o Antigo é desvendado no Novo: « Novum in Vetere latet et in Novo Vetus patet» - «O Novo está oculto no Antigo, e o Antigo está patente no Novo» ().



V. A Sagrada Escritura na vida da Igreja

Resumindo:

138. A Igreja recebe e venera, como inspirados, os 46 livros do Antigo e os 27 do Novo Testamento.



140. A unidade dos dois Testamentos deriva da unidade do plano de Deus e da sua Revelação. O Antigo Testamento prepara o Novo, ao passo que o Novo dá cumprimento ao Antigo. Os dois esclarecem-se mutuamente; ambos são verdadeira Palavra de Deus.





Artigo 1 - «Creio em Deus Pai Todo-Poderoso Criador do Céu e da Terra»

Parágrafo 1 - Creio em Deus

II. Deus revela o seu nome

204. Deus revelou-Se progressivamente e sob diversos nomes ao seu povo; mas foi a revelação do nome divino feita a Moisés na teofania da sarça ardente, no limiar do êxodo e da Aliança do Sinai, que se impôs como sendo a revelação fundamental, tanto para a Antiga como para a Nova Aliança.



Parágrafo 2 - O Pai

I. «Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo»

237. A Trindade é um mistério de fé em sentido estrito, um dos «mistérios ocultos em Deus, que não podem ser conhecidos se não forem revelados lá do alto» () É verdade que Deus deixou traços do seu Ser trinitário na obra da criação e na sua revelação ao longo do Antigo Testamento. Mas a intimidade do seu Ser como Trindade Santíssima constitui um mistério inacessível à razão sozinha e, mesmo, à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do Espírito Santo.



II. A revelação de Deus como Trindade

O PAI REVELADO PELO FILHO

238. A invocação de Deus como «Pai» é conhecida em muitas religiões. A divindade é muitas vezes considerada como «pai dos deuses e dos homens». Em Israel, Deus é chamado Pai enquanto criador do mundo (). Mais ainda, Deus é Pai em razão da Aliança e do dom da Lei a Israel, seu «filho primogénito» (Ex 4, 22). Também é chamado Pai do rei de Israel (). E é muito especialmente «o Pai dos pobres», do órfão e da viúva, entregues à sua protecção amorosa ().



Parágrafo 4 - O Criador

II. A criação - obra da Santíssima Trindade

292. Insinuada no Antigo Testamento () revelada na Nova Aliança, a acção criadora do Filho e do Espírito Santo, inseparavelmente unida à do Pai, é claramente afirmada pela regra de fé da Igreja: «Existe um só Deus. Ele é o Pai, é Deus, é o Criador, o Autor, o Ordenador. Fez todas as coisas por Si mesmo,quer dizer, pelo Seu Verbo e pela sua Sabedoria» () «pelo Filho e pelo Espírito» que são como «as suas mãos» (). A criação é obra comum da Santíssima Trindade.



Parágrafo 5 - Céu e a Terra

II. O mundo visível

OS ANJOS NA VIDA DA IGREJA

346. Na criação, Deus estabeleceu uma base e leis que permanecem estáveis () sobre as quais o crente pode apoiar-se com confiança, e que serão para ele sinal e garantia da fidelidade inquebrantável da Aliança divina (). Por seu lado, o homem deve manter-se fiel a esta base e respeitar as leis que o Criador nela inscreveu.



Parágrafo 6 - O Homem

I. «A imagem de Deus»

357. Porque é «à imagem de Deus», o indivíduo humano possui a dignidade de pessoa: ele não é somente alguma coisa, mas alguém. É capaz de se conhecer, de se possuir e de livremente se dar e entrar em comunhão com outras pessoas. E é chamado, pela graça, a uma Aliança com o seu Criador, a dar-Lhe uma resposta de fé e amor que mais ninguém pode dar em seu lugar.




Artigo 2 - «E em Jesus Cristo, Seu Filho Único, Nosso Senhor»

III. Filho único de Deus

441. Filho de Deus, no Antigo Testamento, é um título dado aos anjos (), ao povo eleito () aos filhos de Israel () e aos seus reis (). Nestes casos, significa uma filiação adoptiva, que estabelece entre Deus e a sua criatura relações de particular intimidade. Quando o Rei-Messias prometido é chamado «filho de Deus» (), isso não implica necessariamente, segundo o sentido literal de tais textos, que Ele seja mais que um simples ser humano. Os que assim designaram Jesus, enquanto Messias de Israel (), talvez não tenham querido dizer mais ().



Artigo 3 - «Jesus Cristo Foi Concebido Pelo Poder do Espírito Santo e Nasceu da Virgem Maria»

Parágrafo 3 - Os Mistérios da Vida de Cristo

II. Os mistérios da infância e da vida oculta de Jesus

OS PREPARATIVOS

522. A vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento tão grandioso, que Deus quis prepará-lo durante séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da «primeira Aliança» (), tudo Deus faz convergir para Cristo. Anuncia-O pela boca dos profetas que se sucedem em Israel. E, por outro lado, desperta no coração dos pagãos a obscura expectativa desta vinda.



OS MISTÉRIOS DA INFÂNCIA DE JESUS

528. A Epifania é a manifestação de Jesus como Messias de Israel, Filho de Deus e salvador do mundo. Juntamente com o baptismo de Jesus no Jordão e as bodas de Caná (), a Epifania celebra a adoração de Jesus pelos «magos» vindos do Oriente (). Nestes «magos», representantes das religiões pagãs circunvizinhas, o Evangelho vê as primícias das nações, que acolhem a Boa-Nova da salvação pela Encarnação. A vinda dos magos a Jerusalém, para «adorar o rei dos judeus» (), mostra que eles procuram em Israel, à luz messiânica da estrela de David (), Aquele que será o rei das nações (). A sua vinda significa que os pagãos não podem descobrir Jesus e adorá-Lo como Filho de Deus e Salvador do mundo, senão voltando-se para os Judeus () e recebendo deles a sua promessa messiânica, tal como está contida no Antigo Testamento (). A Epifania manifesta que «todos os povos entram na família dos patriarcas» () e adquire a « israelitica dignitas» - a dignidade própria do povo eleito ().



Artigo 5 - «Jesus Cristo Desceu à Mansão dos Mortos, ao Terceiro Dia Ressuscitou dos Mortos»

Parágrafo 2 - Ao Terceiro Dia, Ressuscitou dos Mortos

III. Sentido e alcance salvífico da ressurreição

A RESSURREIÇÃO COMO ACONTECIMENTO TRANSCENDENTE

652. A ressurreição de Cristo é o cumprimento das promessas do Antigo Testamento () e do próprio Jesus, durante a sua vida terrena (). A expressão «segundo as Escrituras» () indica que a ressurreição de Cristo cumpriu essas predições.




684. O Espírito Santo, pela sua graça, é o primeiro no despertar da nossa fé e na vida nova que consiste em conhecer o Pai e Aquele que Ele enviou, Jesus Cristo (). No entanto, Ele é o último na revelação das Pessoas da Santíssima Trindade. São Gregário de Nazianzo, «o Teólogo», explica esta progressão pela pedagogia da «condescendência» divina:

«O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai e mais obscuramente o Filho. O Novo manifestou o Filho e fez entrever a divindade do Espírito. Agora, porém, o próprio Espírito vive connosco e manifesta-se a nós mais abertamente. Com efeito, quando ainda não se confessava a divindade do Pai, não era prudente proclamar abertamente o Filho: e quando a divindade do Filho ainda não era admitida, não era prudente acrescentar o Espírito Santo como um fardo suplementar, para empregar uma expressão um tanto ousada [...] É por avanços e progressões "de glória em glória " que a luz da Trindade brilhará em mais esplendorosas claridades» ().



Artigo 8 - «Creio No Espírito Santo»

II. O nome, as designações e os símbolos do Espírito Santo

OS SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO

697. A nuvem e a luz. Estes dois símbolos são inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as teofanias do Antigo Testamento, a nuvem, umas vezes escura, outras luminosa, revela o Deus vivo e salvador, velando a transcendência da sua glória: a Moisés no monte Sinai (), na tenda da reunião () e durante a marcha pelo deserto (); a Salomão, aquando da dedicação do templo (). Ora estas figuras são realizadas por Cristo no Espírito Santo. É Ele que desce sobre a Virgem Maria e a cobre «com a sua sombra», para que conceba e dê à luz Jesus (). No monte da transfiguração, é Ele que «sobrevém na nuvem que cobriu da sua sombra» Jesus, Moisés e Elias, Pedro, Tiago e João, nuvem da qual se fez ouvir uma voz que dizia: "Este é o meu Filho, o meu Eleito, escutai-O!"» (Lc 9, 35). E, enfim, a mesma nuvem que «esconde Jesus aos olhos» dos discípulos no dia da Ascensão () e que O revelará como Filho do Homem na sua glória, no dia da sua vinda ().



III. O Espírito e a Palavra de Deus, no tempo das promessas

702. Desde o princípio até à «plenitude do tempo» (), a missão conjunta do Verbo e do Espírito do Pai permanece oculta, mas está actuante. O Espírito de Deus prepara o tempo do Messias: e um e outro, ainda não plenamente revelados, já são prometidos com o fim de serem esperados e acolhidos quando da sua manifestação. É por isso que, quando a Igreja lê o Antigo Testamento () perscruta nele () o que o Espírito, «que falou pelos profetas» (), nos quer dizer acerca de Cristo.

Por «profetas», a fé da Igreja entende aqui todos aqueles que o Espírito Santo inspirou no anúncio vivo e na redacção dos Livros santos, tanto do Antigo como do Novo Testamento. A tradição judaica distingue a Lei (os cinco primeiros livros ou Pentateuco), os Profetas (os livros ditos históricos e proféticos) e os Escritos (sobretudo sapienciais, em particular os Salmos) ().



NO REINO E NO EXÍLIO

709. A Lei, sinal da promessa e da Aliança, deveria reger o coração e as instituições do povo nascido da fé de Abraão. «Se ouvirdes realmente a minha voz, se guardardes a minha Aliança [...], sereis para Mim um reino de sacerdotes, uma nação consagrada» (Ex 19, 5-6) () . Mas depois de David, Israel sucumbe à tentação de se tornar um reino como as outras nações. Ora o Reino, objecto da promessa feita a David () , será obra do Espírito Santo: pertencerá aos que são pobres segundo o Espírito.



Artigo 9 - «Creio na Santa Igreja Católica»

Parágrafo 1 - A Igreja no Desígnio de Deus

I. Os nomes e as imagens da Igreja

OS SÍMBOLOS DA IGREJA

753. Na Sagrada Escritura, encontramos grande quantidade de imagens e figuras ligadas entre si, mediante as quais a Revelação fala do mistério inesgotável da Igreja. As imagens tomadas do Antigo Testamento constituem variantes duma ideia de fundo, que é a de «povo de Deus». No Novo Testamento (), todas estas imagens encontram um novo centro, pelo facto de Cristo Se tomar «a Cabeça» deste povo () que é, desde então, o seu corpo. A volta deste centro, agrupam-se imagens «tiradas quer da vida pastoril ou agrícola, quer da construção ou também da família e matrimónio» ().



II. Origem, fundação e missão da Igreja

A IGREJA - PREPARADA NA ANTIGA ALIANÇA

762. A preparação remota da reunião do povo de Deus começa com a vocação de Abraão, a quem Deus promete que há-de vir a ser o pai de um grande povo (). A preparação imediata começa com a eleição de Israel como povo de Deus (). Pela sua eleição, Israel deve ser o sinal da reunião futura de todas as nações (). Mas já os profetas acusam Israel de ter quebrado a aliança, comportando-se como uma prostituta (). Eles anunciam uma Aliança nova e eterna (). «Esta Aliança nova, instituiu-a Cristo» ().



Parágrafo 2 - A Igreja - Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito Santo

I. A Igreja - Povo de Deus

781. «Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e pratica a justiça. No entanto, aprouve a Deus salvar e santificar os homens não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse na santidade. Foi por isso que escolheu Israel para ser o seu povo, estabeleceu com ele uma aliança e instruiu-o progressivamente manifestando-se a Si mesmo e os desígnios da Sua vontade na história desse povo, e santificando-o para Si. Mas tudo isso aconteceu como preparação da Aliança nova e perfeita, que seria concluída em Cristo [...]. Esta nova Aliança instituiu-a Cristo no seu Sangue, chamando um povo, proveniente de judeus e pagãos, a juntar-se na unidade, não segundo a carne, mas no Espírito» ().



Artigo 11 - «Creio na Ressurreição da Carne»

I. A ressurreição de Cristo e a nossa ressurreição

REVELAÇÃO PROGRESSIVA DA RESSURREIÇÃO

992. A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus ao seu povo. A esperança na ressurreição corporal dos mortos impôs-se como consequência intrínseca da fé num Deus criador do homem todo, alma e corpo. O Criador do céu e da terra é também Aquele que mantém fielmente a sua aliança com Abraão e a sua descendência. É nesta dupla perspectiva que começará a exprimir-se a fé na ressurreição. Nas suas provações, os mártires Macabeus confessam:

«O Rei do universo ressuscitar-nos-á para uma vida eterna, a nós que morremos pelas suas leis» (2 Mac 7, 9). «É preferível morrermos às mãos dos homens e termos a esperança em Deus de que havemos de ser ressuscitados por Ele» (2 Mac 7, 14) ().




PORQUÊ A LITURGIA?

1067. «Esta obra da redenção humana e da glorificação perfeita de Deus, cujo prelúdio foram as magníficas obras divinas operadas no povo do Antigo Testamento, realizou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal da sua bem-aventurada paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão, em que, "morrendo, destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida". Efectivamente, foi do lado de Cristo adormecido na cruz que nasceu "o sacramento admirável de toda a Igreja"» (). É por isso que, na liturgia, a Igreja celebra principalmente o mistério pascal, pelo qual Cristo realizou a obra da nossa salvação.





Artigo 1 - A Liturgia - Obra da Santíssima Trindade

III. O Espírito Santo e a Igreja na liturgia

O ESPÍRITO SANTO PREPARA PARA ACOLHER CRISTO

1093. O Espírito Santo realiza, na economia sacramental, as figuras da Antiga Aliança. Uma vez que a Igreja de Cristo estava «admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança» (), a liturgia da Igreja conserva, como parte integrante e insubstituível, fazendo-os seus, elementos do culto dessa Antiga Aliança:

- principalmente a leitura do Antigo Testamento;
- a oração dos Salmos;
- e sobretudo, o memorial dos acontecimentos salvíficos e das realidades significativas, que encontraram o seu cumprimento no mistério de Cristo (a Promessa e a Aliança, o Êxodo e a Páscoa, o Reino e o Templo, o Exílio e o regresso).



1094. É com base nesta harmonia dos dois Testamentos () que se articula a catequese pascal do Senhor () e, depois, a dos Apóstolos e dos Padres da Igreja. Esta catequese desvenda o que estava oculto sob a letra do Antigo Testamento: o mistério de Cristo. É chamada «tipológica», porque revela a novidade de Cristo a partir das «figuras» (tipos) que a anunciavam nos factos, palavras e símbolos da primeira Aliança. Por esta releitura no Espírito de verdade a partir de Cristo, as figuras são desvendadas (). Assim, o dilúvio e a arca de Noé prefiguravam a salvação pelo Baptismo (), tal como a nuvem, a travessia do Mar Vermelho e a água do rochedo eram figura dos dons espirituais de Cristo (); e o maná do deserto prefigurava a Eucaristia, «o verdadeiro Pão do céu» (Jo 6, 48).



O ESPÍRITO SANTO RECORDA O MISTÉRIO DE CRISTO

1102. «É pela Palavra da salvação [...] que a fé é alimentada no coração dos fiéis; e é mercê da fé que tem início e se desenvolve a reunião dos fiéis» (). O anúncio da Palavra de Deus não se fica por um ensinamento: faz apelo à resposta da fé, enquanto assentimento e compromisso, em vista da aliança entre Deus e o seu povo. É ainda o Espírito Santo que dá a graça da fé, a fortifica e a faz crescer na comunidade. A assembleia litúrgica é, antes de mais, comunhão na fé.




Artigo 1 - Celebrar a Liturgia da Igreja

II. Como celebrar?

SINAIS E SÍMBOLOS

1145. Uma celebração sacramental é tecida de sinais e de símbolos. Segundo a pedagogia divina da salvação, a sua significação radica na obra da criação e na cultura humana, determina-se nos acontecimentos da Antiga Aliança e revela-se plenamente na pessoa e na obra de Cristo.



1150. Sinais da Aliança. O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos, que marcam a sua vida litúrgica: já não são unicamente celebrações de ciclos cósmicos e práticas sociais, mas sinais da Aliança, símbolos das proezas operadas por Deus em favor do seu povo. Entre estes sinais litúrgicos da Antiga Aliança, podem citar-se a circuncisão, a unção e a sagração dos reis e dos sacerdotes, a imposição das mãos, os sacrifícios e sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nestes sinais uma prefiguração dos sacramentos da Nova Aliança.



1151. Sinais assumidos por Cristo. Na sua pregação, o Senhor Jesus serve-Se muitas vezes dos sinais da criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus (). Realiza as suas curas ou sublinha a sua pregação com sinais materiais ou gestos simbólicos (). Dá um sentido novo aos factos e sinais da Antiga Aliança, sobretudo ao Êxodo e à Páscoa (), porque Ele próprio é o sentido de todos esses sinais.



1152. Sinais sacramentais. Depois do Pentecostes, é através dos sinais sacramentais da sua Igreja que o Espírito Santo opera a santificação. Os sacramentos da Igreja não vêm abolir, mas purificar e assumir, toda a riqueza dos sinais e símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e figuras da Antiga Aliança, significam e realizam a salvação operada por Cristo, e prefiguram e antecipam a glória do céu.



CANTO E MÚSICA

1156. «A tradição musical da Igreja universal criou um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da liturgia solene» (). A composição e o canto dos salmos inspirados, muitas vezes acompanhados por instrumentos musicais, estavam já estreitamente ligados às celebrações litúrgicas da Antiga Aliança. A Igreja continua e desenvolve esta tradição: «Recitai entre vós salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai e louvai ao Senhor no vosso coração» (Ef 5,19) (). Quem canta, reza duas vezes ().



III. Quando celebrar?

O ANO LITÚRGICO

1168. Partindo do Tríduo Pascal, como da sua fonte de luz, o tempo novo da ressurreição enche todo o ano litúrgico da sua claridade. Progressivamente, dum lado e doutro desta fonte, o ano é transfigurado pela liturgia. Ele é realmente o ano da graça do Senhor (). A economia da salvação realiza-se no quadro do tempo, mas a partir do seu cumprimento na Páscoa de Jesus e da efusão do Espírito Santo, o fim da história é antecipado, pregustado, e o Reino de Deus entra no nosso tempo.



1169. É por isso que a Páscoa não é simplesmente uma festa entre outras: é a «festa das festas», a «solenidade das solenidades», tal como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o grande sacramento). Santo Atanásio chama-lhe «o grande domingo» (), tal como a Semana Santa é chamada no Oriente «a semana maior». O mistério da ressurreição, em que Cristo aniquilou a morte, penetra no nosso velho tempo com a sua poderosa energia, até que tudo Lhe seja submetido.



1170. No Concílio de Niceia (em 325), todas as Igrejas acordaram em que a Páscoa cristã fosse celebrada no domingo a seguir à lua cheia (14 de Nisan), depois do equinócio da Primavera. Devido a diferentes métodos usados para calcular o dia 14 de Nisan, a data da Páscoa nem sempre coincide nas Igrejas do Ocidente e do Oriente. Por isso, estas Igrejas procuram hoje um acordo, para chegarem de novo a celebrar numa data comum o dia da ressurreição do Senhor.



1171. O ano litúrgico é o desenrolar dos diferentes aspectos do único mistério pascal. Isto vale particularmente para o ciclo das festas em torno do mistério da Encarnação (Anunciação, Natal, Epifania), que comemoram o princípio da nossa salvação e nos comunicam as primícias do mistério da Páscoa.



IV. Onde celebrar?

Resumindo:

1193. 0 Domingo, «Dia do Senhor», é o dia principal da celebração da Eucaristia, porque é o dia da ressurreição. É o dia por excelência da assembleia litúrgica, o dia da família cristã, o dia da alegria e do descanso do trabalho. É «o fundamento e o núcleo de todo o ano litúrgico» ().





Artigo 1 - O Sacramento do Baptismo

II. O Baptismo na economia da salvação

AS PREFIGURAÇÕES DO BAPTISMO NA ANTIGA ALIANÇA

1217. Na liturgia da Vigília Pascal, a quando da bênção da água baptismal, a Igreja faz solenemente memória dos grandes acontecimentos da história da salvação que prefiguravam já o mistério do Baptismo:

«Senhor nosso Deus: pelo vosso poder invisível, realizais maravilhas nos vossos sacramentos. Ao longo dos tempos, preparastes a água para manifestar a graça do Baptismo» ().



O BAPTISMO DE CRISTO

1223. Todas as prefigurações da Antiga Aliança encontram a sua realização em Jesus Cristo. Ele começa a sua vida pública depois de Se ter feito baptizar por São João Baptista no Jordão (). E depois da sua ressurreição, confere esta missão aos Apóstolos: «Ide, pois, fazei discípulos de todas as nações; baptizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinai-os a cumprir tudo quanto vos mandei» (Mt 28, 19-20) ().



Artigo 2 - O Sacramento da Confirmação

I. A Confirmação na economia da salvação

1286. No Antigo Testamento, os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor repousaria sobre o Messias esperado (), em vista da sua missão salvífica (). A descida do Espírito Santo sobre Jesus, aquando do seu baptismo por João, foi o sinal de que era Ele o que havia de vir, de que era o Messias, o Filho de Deus (). Concebido pelo poder do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se realizam numa comunhão total com o mesmo Espírito Santo, que o Pai Lhe dá «sem medida» (Jo 3, 34).



Artigo 3 - O Sacramento da Eucaristia

III. A Eucaristia na economia da salvação

OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO

1334. Na Antiga Aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas também recebem uma nova significação no contexto do Êxodo: os pães ázimos que Israel come todos os anos na Páscoa, comemoram a pressa da partida libertadora do Egipto; a lembrança do maná do deserto recordará sempre a Israel que é do pão da Palavra de Deus que ele vive (). Finalmente, o pão de cada dia é o fruto da terra prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O «cálice de bênção» (1 Cor 10, 16), no fim da ceia pascal dos judeus, acrescenta à alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica - a da expectativa messiânica do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu a sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênção do pão e do cálice.



IV. A celebração litúrgica da Eucaristia

O DESENROLAR DA CELEBRAÇÃO

1349. A liturgia da Palavra comporta «os escritos dos Profetas», quer dizer, o Antigo Testamento, e «as Memórias dos Apóstolos» ou seja, as suas epístolas e os evangelhos. Depois da homilia, que é uma exortação a acolher esta Palavra como o que ela é na realidade, Palavra de Deus(), e a pô-la em prática, vêm as intercessões por todos os homens, segundo a palavra do Apóstolo: «Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças, por todos os homens, pelos reis e por todos os que exercem autoridade» (1 Tm 2, 1-2).




Artigo 4 - O Sacramento da Penitência e da Reconciliação

V. As múltiplas formas da penitência na vida cristã

1438. Os tempos e os dias de penitência no decorrer do Ano Litúrgico (tempo da Quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja (). Estes tempos são particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntárias como o jejum e a esmola, a partilha fraterna (obras caritativas e missionárias).



Artigo 5 - A Unção dos Enfermos

I. Os seus fundamentos na economia da salvação

O DOENTE PERANTE DEUS

1502. O homem do Antigo Testamento vive a doença à face de Deus. É diante de Deus que desafoga o seu lamento pela doença que lhe sobreveio () e é d'Ele. Senhor da vida e da morte, que implora a cura (). A doença torna-se caminho de conversão () e o perdão de Deus dá início à cura (). Israel faz a experiência de que a doença está, de modo misterioso, ligada ao pecado e ao mal, e de que a fidelidade a Deus em conformidade com a sua Lei restitui a vida: «porque Eu, o Senhor, é que sou o teu médico» (Ex 15, 26). O profeta entrevê que o sofrimento pode ter também um sentido redentor pelos pecados dos outros (). Finalmente, Isaías anuncia que Deus fará vir para Sião um tempo em que perdoará todas as faltas e curará todas as doenças ().




Artigo 6 - O Sacramento da Ordem

II. O sacramento da Ordem na economia da salvação

O SACERDÓCIO DA ANTIGA ALIANÇA

1539. O povo eleito foi constituído por Deus como «um reino de sacerdotes e uma nação consagrada» (Ex 19, 6) (). Mas, dentro do povo de Israel, Deus escolheu uma das doze tribos, a de Levi, segregada para o serviço litúrgico () o próprio Deus é a sua parte na herança (). Um rito próprio consagrou as origens do sacerdócio da Antiga Aliança (). Nela, os sacerdotes são «constituídos em favor dos homens, nas coisas respeitantes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados» ().



1542. Na ordenação dos presbíteros, a Igreja reza:

«Senhor, Pai santo, [...] já na Antiga Aliança se desenvolveram funções sagradas que eram sinais do sacramento novo. A Moisés e a Aarão, que pusestes à frente do povo para o conduzirem e santificarem, associastes como seus colaboradores outros homens também escolhidos por Vós. No deserto, comunicastes o espírito de Moisés a setenta homens prudentes, com o auxílio dos quais ele governou mais facilmente o vosso povo. Do mesmo modo, as graças abundantes concedidas a Aarão. Vós as transmitistes a seus filhos, a fim de não faltarem sacerdotes, segundo a Lei, para oferecer os sacrifícios do templo, sombra dos bens futuros...» ().



O SACERDÓCIO ÚNICO DE CRISTO

1544. Todas as prefigurações do sacerdócio da Antiga Aliança encontram a sua realização em Jesus Cristo, «único mediador entre Deus e os homens» (1 Tm 2, 5). Melquisedec, «sacerdote do Deus Altíssimo» (Gn 14, 18), é considerado pela Tradição cristã como uma prefiguração do sacerdócio de Cristo, único «Sumo-Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec» (Heb 5, l0; 6, 20), «santo, inocente, sem mancha» (Heb 7, 26), que «com uma única oblação, tornou perfeitos para sempre os que foram santificados» (Heb 10, 14), isto é, pelo único sacrifício da sua cruz.



III. Os três graus do sacramento da Ordem

...«EM NOME DE TODA A IGREJA»

1554. «O ministério eclesiástico, instituído por Deus, é exercido em ordens diversas por aqueles que, desde a antiguidade, são chamados bispos, presbíteros e diáconos» (). A doutrina católica, expressa na liturgia, no Magistério e na prática constante da Igreja, reconhece que existem dois graus de participação ministerial no sacerdócio de Cristo: o episcopado e o presbiterado. O diaconado destina-se a ajudá-los e a servi-los. Por isso, o termo «sacerdos» designa, no uso actual, os bispos e os presbíteros, mas não os diáconos. Todavia, a doutrina católica ensina que os graus de participação sacerdotal (episcopado e presbiterado) e o grau de serviço (diaconado), todos três são conferidos por um acto sacramental chamado «ordenação», ou seja, pelo sacramento da Ordem.

«Reverenciem todos os diáconos como a Jesus Cristo e de igual modo o bispo que é a imagem do Pai, e os presbíteros como o senado de Deus e como a assembleia dos Apóstolos: sem eles, não se pode falar de Igreja» ().



Artigo 7 - O Sacramento do Matrimónio

I. O matrimónio no desígnio de Deus

O MATRIMÓNIO NO SENHOR

1612. A aliança nupcial entre Deus e o seu povo Israel tinha preparado a Aliança nova e eterna, pela qual o Filho de Deus, encarnando e dando a sua vida, uniu a Si, de certo modo, toda a humanidade por Ele salva (), preparando assim as «núpcias do Cordeiro» ().





O DECÁLOGO NA SAGRADA ESCRITURA

2057. O Decálogo compreende-se, antes de mais nada, no contexto do Êxodo que é o grande acontecimento libertador de Deus, no centro da Antiga Aliança. Quer sejam formuladas como preceitos negativos ou interdições, quer como mandamentos positivos (por exemplo: «Honra teu pai e tua mãe»), as «dez palavras» indicam as condições duma vida liberta da escravidão do pecado. O Decálogo é um caminho de vida:

«Se amares o teu Deus, andares nos seus caminhos e guardares os seus mandamentos, leis e costumes, viverás e multiplicar-te-ás» (Dt 30, 16).

Esta força libertadora do Decálogo aparece, por exemplo, no mandamento sobre o repouso do sábado, que abrange igualmente os estrangeiros e os escravos:

«Recorda-te de que foste escravo no país do Egipto, de onde o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e braço poderoso» (Dt 5, 15).



2058. As «dez palavras» resumem e proclamam a Lei de Deus: «Estas palavras dirigiu-as o Senhor a toda a vossa assembleia sobre a montanha, do meio do fogo, da nuvem e das trevas, com voz forte, sem acrescentar mais nada: escreveu-as em duas tábuas de pedra e entregou-mas» (Dt 5, 22). Por isso é que estas duas tábuas são chamadas «o testemunho» (Ex 25, 16). De facto, elas contêm as cláusulas da aliança concluída entre Deus e o seu povo. Estas «tábuas do testemunho» (Ex 31, 18; 32, 15; 34, 29) devem ser depositadas na «arca» (Ex 25, 16: 40, 1-2).



2060. O dom dos mandamentos e da Lei faz parte da Aliança selada por Deus com os seus. Segundo o Livro do Êxodo, a revelação das «dez palavras» teve lugar entre a proposta da Aliança () e a sua conclusão () depois de o povo se ter comprometido a «fazer» tudo o que o Senhor tinha dito e a «obedecer» (). O Decálogo nunca é transmitido sem primeiro se evocar a Aliança («o Senhor nosso Deus firmou connosco uma Aliança no Horeb»: Dt 5, 2).



2061. É no âmbito da Aliança que os mandamentos recebem o seu pleno significado. Segundo a Escritura, o procedimento moral do homem atinge todo o seu sentido na e pela Aliança. A primeira das "dez palavras" lembra o amor primeiro de Deus pelo seu povo:

«Como, em castigo do pecado, se tinha dado a passagem do paraíso da liberdade para a escravidão deste mundo, por esse motivo, a primeira frase do Decálogo, primeira palavra dos mandamentos de Deus, incide sobre a liberdade: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, de uma casa de escravidão" (Ex 20, 2: Dt 5, 6)» ().



2062. Os mandamentos propriamente ditos vêm em segundo lugar e traduzem as implicações da pertença a Deus, instituída pela Aliança. A existência moral é resposta à iniciativa amorosa do Senhor. É reconhecimento, homenagem a Deus e culto de acção de graças. É cooperação com o plano que Deus prossegue na história.



2063. A Aliança e o diálogo entre Deus e o homem são ainda comprovados pelo facto de todas as obrigações serem enunciadas em primeira pessoa ("Eu sou o Senhor...") e dirigidas a um outro sujeito ("tu..."). Em todos os mandamentos de Deus, é um pronome pessoal singular que designa o destinatário. Ao mesmo tempo que a todo o povo, Deus faz conhecer a sua vontade a cada um em particular:

«O Senhor prescreveu o amor para com Deus e ensinou a justiça para com o próximo, para que o homem não fosse nem injusto nem indigno de Deus. Assim, através do Decálogo, Deus preparava o homem para se tornar seu amigo e ter um só coração com o seu próximo [...]. As palavras do Decálogo continuam a ser para nós [cristãos] o que eram; longe de serem abolidas, elas receberam amplificação e desenvolvimento, com o facto da vinda do Senhor na carne» ().



O DECÁLOGO E A LEI NATURAL

2070. Os Dez Mandamentos fazem parte da revelação de Deus. Mas, ao mesmo tempo, ensinam-nos a verdadeira humanidade do homem. Põem em relevo os deveres essenciais e, por conseguinte, indirectamente, os direitos fundamentais inerentes à natureza da pessoa humana. O Decálogo encerra uma expressão privilegiada da «lei natural»:

No princípio, Deus admoestou os homens com os preceitos da lei natural, que tinha enraizado nos seus corações, isto é, pelo Decálogo. Se alguém não os cumprisse, não se salvaria. E Deus não exigiu mais nada aos homens» ().



Resumindo:

2077. A dádiva do Decálogo foi feita no âmbito da Aliança concluída por Deus com o seu povo. É nesta e por esta Aliança que os mandamentos de Deus recebem o seu verdadeiro significado.




Artigo 1 - O Primeiro Mandamento

IV. «Não farás para ti nenhuma imagem esculpida...»

O AGNOSTICISMO

2130. No entanto, já no Antigo Testamento Deus ordenou ou permitiu a instituição de imagens, que conduziriam simbolicamente à salvação pelo Verbo encarnado: por exemplo, a serpente de bronze () a arca da Aliança e os querubins ().



Artigo 3 - O Terceiro Mandamento

I. O dia do sábado

2171. Deus confiou a Israel o sábado, para ele o guardar em sinal da Aliança inviolável (). O sábado é para o Senhor, santamente reservado ao louvor de Deus, da sua obra criadora e das suas acções salvíficas a favor de Israel.




Artigo 5 - O Quinto Mandamento

I. O respeito pela vida humana

TESTEMUNHO DA HISTÓRIA SAGRADA

2260. A aliança entre Deus e a humanidade é entretecida de referências ao dom divino da vida humana e à violência assassina do homem:

«Pedirei contas do vosso sangue [...]. A quem derramar sangue humano, por mão de homem será derramado o seu, porque Deus fez o homem à sua imagem» (Gn 9, 5-61).

O Antigo Testamento considerou sempre o sangue como um sinal sagrado da vida (). E este ensinamento é válido para todos os tempos.



Artigo 7 - O Sétimo Mandamento

VI. O amor dos pobres

O RESPEITO PELA INTEGRIDADE DA CRIAÇÃO

2449. Desde o Antigo Testamento, toda a espécie de medidas jurídicas (ano de remissão, interdição de empréstimos a juros e da retenção dum penhor, obrigação do dízimo, pagamento quotidiano da jorna, direito de apanhar os restos da vindima e da ceifa) são uma resposta à exortação do Deuteronómio: «Nunca faltarão os pobres na terra; por isso, faço-te esta recomendação: abre, abre a mão para o teu irmão, para o pobre e necessitado que estiver na tua terra» (Dt 15, 1 l ). E Jesus faz sua esta palavra: «Pobres, sempre os haveis de ter convosco; a Mim, nem sempre Me tereis» (Jo 12, 8). Com isto não faz caducar a força dos oráculos antigos: «Compraremos os necessitados por dinheiro e os pobres por um par de sandálias» (Am 8, 6), mas convida-nos a reconhecer a sua presença na pessoa dos pobres que são seus irmãos ():

No dia em que a sua mãe a repreendeu por manter em sua casa pobres e doentes. Santa Rosa de Lima respondeu-lhe: «Quando servimos os pobres e os doentes, é a Jesus servimos. Não devemos cansar-nos de ajudar o nosso próximo, porque nele servimos a Jesus» ().



Artigo 8 - O Oitavo Mandamento

I. Viver na verdade

2465. O Antigo Testamento declara: Deus é a fonte de toda a verdade. A sua Palavra é verdade (). A sua lei é verdade (). «A sua fidelidade permanece de geração em geração» (Sl 119, 90) (). Uma vez que Deus é o «Verdadeiro» (Rm 3, 4), os membros do seu povo são chamados a viver na verdade ().





A ORAÇÃO COMO ALIANÇA

2563. O coração é a morada onde estou, onde habito (e segundo a expressão semítica ou bíblica, aonde eu «desço»). É o nosso centro oculto, inapreensível, quer para a nossa razão quer para a dos outros: só o Espírito de Deus é que o pode sondar e conhecer. E o lugar da decisão, no mais profundo das nossas tendências psíquicas. É a sede da verdade, onde escolhemos a vida ou a morte. É o lugar do encontro, já que, à imagem de Deus, vivemos em relação: é o lugar da aliança.



2564. A oração cristã é uma relação de aliança entre Deus e o homem em Cristo. É acção de Deus e do homem; jorra do Espírito Santo e de nós, toda orientada para o Pai, em união com a vontade humana do Filho de Deus feito homem.




O apelo universal à oração

2567. Mas é Deus que primeiro chama o homem. Muito embora o homem se esqueça do seu Criador ou se esconda da sua face, corra atrás dos ídolos ou acuse a divindade de o ter abandonado, o Deus vivo e verdadeiro chama incansavelmente cada pessoa ao misterioso encontro da oração. Na oração, é sempre o amor do Deus fiel a dar o primeiro passo; o passo do homem é sempre uma resposta. A medida que Deus Se revela e revela o homem a si mesmo, a oração surge como um apelo recíproco, um drama de aliança. Através das palavras e dos actos, este drama compromete o coração e manifesta-se ao longo de toda a história da salvação.



Artigo 1 - No Antigo Testamento

2568. A revelação da oração no Antigo Testamento inscreve-se entre a queda e o levantar-se do homem, entre o doloroso chamamento de Deus pelos seus primeiros filhos: «Onde estás? [...] Porque fizeste isso?» (Gn 3, 9,13), e a resposta do Filho único, ao entrar neste mundo: «Eis que venho, [...] ó Deus, para fazer a tua vontade» (Heb 10, 7) (). A oração está assim ligada à história dos homens; é a relação com Deus nos acontecimentos da história.



A CRIAÇÃO - FONTE DA ORAÇÃO

2569. Antes de mais, é a partir das realidades da criação que a oração se vive. Os nove primeiros capítulos do Génesis descrevem esta relação com Deus como oferta das primeiras crias do rebanho por Abel (), como invocação do nome divino por Henoc (), como «caminhada com Deus» (). A oferenda de Noé é «agradável» a Deus que o abençoa e, através dele, abençoa toda a criação () porque o seu coração é justo e íntegro. Também ele «anda com Deus» (Gn 6, 9). Esta qualidade da oração é vivida por uma multidão de justos em todas as religiões.

Na sua aliança indefectível com os seres vivos (), Deus está sempre a chamar os homens para lhe rezarem. Mas é sobretudo a partir do nosso pai Abraão que a oração se revela no Antigo Testamento.



A PROMESSA E A ORAÇÃO DA FÉ

2571. Tendo acreditado em Deus () caminhando na sua presença e em aliança com Ele (), o patriarca está pronto para acolher na sua tenda o Hóspede misterioso: é a admirável hospitalidade de Mambré, prelúdio da Anunciação do verdadeiro Filho da promessa (). Desde então, tendo-lhe Deus confiado o seu desígnio, o coração de Abraão fica em sintonia com a compaixão do seu Senhor pelos homens e ousa interceder por eles com uma confiança audaciosa ().



OS SALMOS, ORAÇÃO DA ASSEMBLEIA

2585. De David até à vinda do Messias, os livros sagrados contêm textos de oração que atestam como esta se foi tornando mais profunda, quer feita em favor de si mesmo quer pelos outros (). Os salmos foram a pouco e pouco reunidos numa colectânea de cinco livros: os Salmos (ou «Louvores»), obra-prima da oração no Antigo Testamento.



Resumindo:

2596. Os salmos constituem a obra-prima da oração no Antigo Testamento. Apresentam duas componentes inseparáveis: a pessoal e a comunitária. Estendem-se a todas as dimensões da história, comemorando as promessas de Deus já cumpridas e esperando a vinda do Messias.



Artigo 3 - No Tempo da Igreja

II. A oração de petição

2630. O Novo Testamento quase não contém orações de lamentação, frequentes no Antigo. Doravante, em Cristo Ressuscitado, a petição da Igreja é sustentada pela esperança, embora ainda estejamos à espera e tenhamos de nos converter em cada dia. É de outra profundidade que brota a petição cristã, aquela a que São Paulo chama gemido: o da criação em «dores de parto» (Rm 8, 22) e também o nosso, «aguardando a libertação do nosso corpo», porque «foi na esperança que fomos salvos» (Rm 8, 23-24); e, por fim, os «gemidos inefáveis» do próprio Espírito Santo, que «vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser» (Rm 8, 26).




2698. A Tradição da Igreja propõe aos fiéis ritmos de oração destinados a alimentar a oração contínua. Alguns são quotidianos: a oração da manhã e da noite, antes e depois das refeições, a Liturgia das Horas. O Domingo, centrado na Eucaristia, é santificado principalmente pela oração. O ciclo do ano litúrgico e as suas grandes festas constituem os ritmos fundamentais da vida de oração dos cristãos.



Artigo 1 - As Expressões da Oração

III. A contemplação

2713. Assim, a contemplação é a expressão mais simples do mistério da oração. É um dom, uma graça; só pode ser acolhida na humildade e na pobreza. É uma relação de aliança estabelecida por Deus no fundo do nosso ser (). A contemplação é comunhão: nela, a Santíssima Trindade conforma o homem, imagem de Deus, «à sua semelhança».




Artigo 2 - «Pai Nosso, Que Estais nos Céus»

IV. «Que estais nos céus»

2795. O símbolo dos céus remete-nos para o mistério da Aliança que nós vivemos, quando rezamos ao Pai. Ele está nos céus: é a sua morada. A casa do Pai é, pois, a nossa «pátria». Foi da terra da Aliança que o pecado nos exilou (), e é para o Pai, para o céu, que a conversão do coração nos faz voltar (). Ora, foi em Cristo que o céu e a terra se reconciliaram (), porque o Filho «desceu do céu», sozinho, e para lá nos faz subir juntamente consigo, pela sua cruz, ressurreição e ascensão ().



Artigo 3 - As Sete Petições

I. «Santificado seja o vosso nome»

2810. Na promessa feita a Abraão e no juramento que a acompanha (), Deus compromete-Se a Si mesmo, mas sem revelar o seu nome. É a Moisés que começa a revelá-Lo (), e manifesta-O aos olhos de todo o povo salvando-o dos Egípcios: «revestiu-Se de glória» (Ex 15, 1). A partir da Aliança do Sinai, este povo é «seu» e deve ser uma «nação santa» (ou consagrada; em hebreu é a mesma palavra) (), porque o nome de Deus habita nela.



IV. «O pão nosso de cada dia nos dai hoje»

2829. «Dai-nos» é também expressão da Aliança: nós somos d'Ele e Ele é nosso, é para nós. Mas este «nós» reconhece-O também como Pai de todos os homens, e nós pedimos-Lhe por todos, solidários com as suas necessidades e os seus sofrimentos.



V. «Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido»

«PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS»...

2841. Esta petição é tão importante que é a única na qual o Senhor volta a insistir, desenvolvendo-a no sermão da montanha (). Esta exigência crucial do mistério da Aliança é impossível para o homem. Mas «a Deus tudo é possível» (Mt 19, 26).