Índice Geral
Artigo 8 - «Creio No Espírito Santo»
III. O Espírito e a Palavra de Deus, no tempo das promessasOS SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO
702. Desde o princípio até à «plenitude do tempo» (), a missão conjunta do Verbo e do Espírito do Pai permanece oculta, mas está actuante. O Espírito de Deus prepara o tempo do Messias: e um e outro, ainda não plenamente revelados, já são prometidos com o fim de serem esperados e acolhidos quando da sua manifestação. É por isso que, quando a Igreja lê o Antigo Testamento () perscruta nele () o que o Espírito, «que falou pelos profetas» (), nos quer dizer acerca de Cristo.
Por «profetas», a fé da Igreja entende aqui todos aqueles que o Espírito Santo inspirou no anúncio vivo e na redacção dos Livros santos, tanto do Antigo como do Novo Testamento. A tradição judaica distingue a Lei (os cinco primeiros livros ou Pentateuco), os Profetas (os livros ditos históricos e proféticos) e os Escritos (sobretudo sapienciais, em particular os Salmos) ().
![]() |
NA CRIAÇÃO
703. A Palavra de Deus e o seu Espírito estão na origem do ser e da vida de todas as criaturas ().
É próprio do Espírito Santo reinar, santificar e animar a criação, porque Ele é Deus consubstancial ao Pai e ao Filho [...]. Pertence-Lhe o poder sobre a vida, porque, sendo Deus, guarda a criação no Pai pelo Filho ().
![]() |
704. «Quanto ao homem, foi com as suas próprias mãos (quer dizer, com o Filho e o Espírito Santo) que Deus o moldou [...] e sobre a carne moldada desenhou a sua própria forma, de modo que, mesmo o que havia de ser visível, tivesse a forma divina» () .
![]() |
O ESPÍRITO DA PROMESSA
705. Desfigurado pelo pecado e pela morte, o homem permanece «à imagem de Deus», à imagem do Filho, mas está «privado da glória de Deus» () , privado da «semelhança». A promessa feita a Abraão inaugura a «economia da salvação», no termo da qual o próprio Filho assumirá «a imagem»() e restaurá-la-á na «semelhança» com o Pai, voltando a dar-lhe a glória, o Espírito «que dá a vida».
![]() |
706. Contra toda a esperança humana, Deus promete a Abraão uma descendência, como fruto da fé e do poder do Espírito Santo (). Nessa descendência serão abençoadas todas as nações da terra (). Essa descendência será o Cristo () no qual a efusão do Espírito Santo fará «a unidade dos filhos de Deus dispersos» (). Comprometendo-Se por juramento (), Deus obriga-Se, desde logo, ao dom do seu Filho muito-amado () e ao dom do «Espírito Santo prometido, que constitui o título de garantia da nossa herança para a redenção do povo que Deus adquiriu para Si mesmo» ().
![]() |
NAS TEOFANIAS E NA LEI
707. As teofanias (manifestações de Deus) iluminam o caminho da promessa, dos patriarcas a Moisés e de Josué até às visões que inauguram a missão dos grandes profetas. A Tradição cristã sempre reconheceu que, nestas teofanias, o Verbo de Deus Se deixava ver e ouvir, ao mesmo tempo revelado e «velado», na nuvem do Espírito Santo.
![]() |
708. Esta pedagogia de Deus manifesta-se especialmente no dom da Lei (). A Lei foi dada como um «pedagogo» para conduzir o povo a Cristo (). Mas a sua impotência para salvar o homem, privado da «semelhança» divina e o conhecimento acrescido que ela dá do pecado () suscitam o desejo do Espírito Santo. Os gemidos dos Salmos são disso testemunho.
![]() |
NO REINO E NO EXÍLIO
709. A Lei, sinal da promessa e da Aliança, deveria reger o coração e as instituições do povo nascido da fé de Abraão. «Se ouvirdes realmente a minha voz, se guardardes a minha Aliança [...], sereis para Mim um reino de sacerdotes, uma nação consagrada» (Ex 19, 5-6) () . Mas depois de David, Israel sucumbe à tentação de se tornar um reino como as outras nações. Ora o Reino, objecto da promessa feita a David () , será obra do Espírito Santo: pertencerá aos que são pobres segundo o Espírito.
![]() |
710. O esquecimento da Lei e a infidelidade à Aliança levam à morte: é o Exílio, aparentemente o fracasso das promessas, mas, na realidade, fidelidade misteriosa do Deus salvador e o princípio duma restauração prometida, mas segundo o Espírito. Era preciso que o povo de Deus sofresse esta purificação (). O exílio traz já a sombra da cruz no desígnio de Deus; e o «resto» dos pobres que regressa do Exílio é uma das figuras mais transparentes da Igreja.
![]() |
A EXPECTATIVA DO MESSIAS E DO SEU ESPÍRITO
711. «Eis que vou fazer algo de novo» (Is 43, 19): duas linhas proféticas vão ser traçadas, incidindo uma sobre a expectativa do Messias e outra sobre o anúncio dum Espírito novo, convergindo ambas no pequeno «resto», o povo dos pobres (), que aguarda na esperança a «consolação de Israel» e «a libertação de Jerusalém» (Lc 2, 25.38).
Vimos mais atrás como Jesus cumpriu as profecias que Lhe diziam respeito. Limitamo-nos agora àquelas em que aparece mais clara a relação entre o Messias e o seu Espírito.
![]() |
712. Os traços do rosto do Messias esperado começam a aparecer no Livro do Emanuel () (quando Isaías [...] teve a visão da glória» de Cristo: Jo 12, 41), particularmente em Is 11, 1-2:
«Naquele dia,
sairá um ramo do tronco de Jessé
e um rebento brotará das suas raízes.
Sobre ele repousará o Espírito do Senhor:
espírito de sabedoria e de entendimento,
espírito de conselho e de fortaleza,
espírito de conhecimento e de temor do Senhor».
![]() |
713. Os traços do Messias são revelados sobretudo nos cânticos do Servo (). Estes cânticos anunciam o sentido da paixão de Jesus, indicando assim a maneira como Ele derramará o Espírito Santo para dar vida à multidão: não a partir do exterior, mas assumindo a nossa «condição de servo» (Fl 2, 7). Tomando sobre Si a nossa morte, Ele pode comunicar-nos o seu próprio Espírito de vida.
![]() |
714. É por isso que Cristo inaugura o anúncio da Boa-Nova, apropriando-Se desse passo de Isaías (Lc 4, 18-19) () :
«O Espírito do Senhor Deus está sobre Mim,
porque o Senhor Me ungiu.
Enviou-Me a anunciar a Boa-Nova aos que sofrem,
para curar os desesperados,
para anunciar a libertação aos exilados
e a liberdade aos prisioneiros,
para proclamar o ano da graça do Senhor».
![]() |
715. Os textos proféticos, respeitantes directamente ao envio do Espírito Santo, são oráculos em que Deus fala ao coração do seu povo na linguagem da promessa, com os acentos do «amor e da fidelidade» (), cujo cumprimento São Pedro proclamará na manhã do Pentecostes ()». Segundo estas promessas, nos «últimos tempos» o Espírito do Senhor há-de renovar o coração dos homens, gravando neles uma lei nova; reunirá e reconciliará os povos dispersos e divididos; transformará a primeira criação e Deus habitará nela com os homens, na paz.
![]() |
716. O povo dos «pobres» () , dos humildes e dos mansos, totalmente entregues aos desígnios misteriosos do seu Deus, o povo dos que esperam a justiça, não dos homens mas do Messias, tal é, afinal, a grande obra da missão oculta do Espírito Santo, durante o tempo das promessas, para preparar a vinda de Cristo. É a qualidade do seu coração, purificado e iluminado pelo Espírito, que se exprime nos salmos. Nestes pobres, o Espírito prepara para o Senhor «um povo bem disposto» ().
![]() |